A programação de “A Semana de 100 anos”, criada pelo Projeto Contribuinte da Cultura (IMA), conta com apoio de entidades parceiras e prevê a realização de vinte e dois eventos no período de junho a dezembro do presente ano.

A programação teve início no dia 23 de junho, através da parceria Sesc São Carlos, com o lançamento  do livro “Mário de Andrade, epicentro” e bate-papo presencial com seu autor, o sociólogo Maurício Trindade da Silva e Pedro Varoni,  pesquisador e professor do Curso de  Letras da UFSCar.

Com apoio do Grupo Coordenador de Cultura e Extensão da USP São Carlos e outros parceiros, no dia 12 de julho foi realizada a primeira parte da programação “Modernismo, Culinária e Identidade Nacional”, que tem curadoria de Ruy Sardinha, professor do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da USP (IAU) e que teve início com  a Roda de Conversas “Os Sabores e Saberes da Floresta”. No dia 16 de agosto ocorrerão as duas últimas atividades dessa programação com a Roda de Conversas “Na  Mesa com os Andrades” e o lançamento do livro “A arte de devorar o mundo”, do historiador escritor e criador audiovisual Rudá K. de Andrade, neto de Oswald de Andrade e de Patrícia Galvão, a Pagú.

Os eventos do centenário da Semana de Arte Moderna são divulgados e registrados no site de “A Semana de 100 anos” (https://www.asemanadecemanos.institutomariodeandrade.org.br)  e também através das mídias do IMA, dos parceiros realizadores e pela agenda oficial do Estado de São Paulo, a Agenda Tarsila (https://agendatarsila.com.br/programacao/).

Duas próximas realizações

Dando continuidade à programação dos vinte e dois eventos propostos pelo IMA, duas atividades interessantíssimas ocorrerão nos próximos dias 22 (sexta-feira) e 23 (sábado), no Teatro do Sesc São Carlos.

A primeira será uma palestra musicada sobre o rico conteúdo do manuscrito inédito de Mário de Andrade, denominado “Síncopa”. Embora parta de uma temática ligada à música, não é necessário ser musicista para compreender e apreciar a apresentação do palestrante, o pesquisador e músico Enrique Menezes. A Segunda atividade é uma intervenção realizada no escuro e denominada “A gente de São Paulo – três experiências sonoras com contos de Mário de Andrade”.

SÍNCOPA – um manuscrito inédito de Mário de Andrade

Conforme a descrição de Enrique Menezes, a imersão de Mário de Andrade em estudos de múltiplas dimensões da cultura popular brasileira o levaram a ser – além de um de nossos maiores escritores – um dos mais importantes críticos da nossa música. Essa palestra trata de um desses estudos em particular: sobre a síncopa na música brasileira, que permaneceu incompleto e não publicado.

Em 1928, além de Macunaíma – o herói sem nenhum caráter, o escritor também publicava o Ensaio sobre música brasileira, no qual indica que a síncopa é uma questão crucial, e promete um livro à parte sobre ela. Esse livro não chegou a ser organizado para publicação, e sobreviveu apenas como um conjunto de notas manuscritas.

Nessa palestra vamos fazer uma análise do conjunto desse manuscrito inédito. Nele, Mário de Andrade se propõe um método admirável: estudar dados mais precisos sobre os processos da música de povos europeus, africanos e ameríndios em contexto pré-colonial, para então poder estudar as transformações ocorridas em processos transnacionais, a partir da interação dinâmica e complexa desses povos em todo o continente americano, já em contexto colonial.

Assim, o escritor parece propor uma interpretação inovadora para a época: que a síncopa das Américas em geral não seria simplesmente dos negros, dos brancos ou dos indígenas, ou seja, uma transposição direta e preservada de tradições deslocadas, mas sim uma dinâmica complexa que envolve colonizadores, colonizados e deportados em uma espécie de “rede rítmica” transatlântica, na qual as musicalidades tradicionais de diversas culturas do mundo são deslocadas e ressignificadas dentro do complexo sistema surgido das modernas expansões comerciais transcontinentais.

Ao constatar que a “síncopa” é um processo musical diferente em cada uma das culturas pesquisadas, o que entra em jogo para Mário de Andrade é a própria movimentação da rede: o encontro e o convívio, conflituoso ou não, sincrético ou não, das figuras – sincopadas ou não – dos sistemas originais. Ao considerar o contexto mais largo dessas diferentes dimensões, sua interpretação da síncopa nesse manuscrito tem potência para inspirar nossa musicologia ainda nos dias de hoje.

A GENTE DE SÃO PAULO – Três experiências sonoras com contos de Mário de Andrade

Uma sessão de cinema sem tela. Um mergulho no escuro para ver melhor. A GENTE DE SÃO PAULO: Três experiências sonoras com contos de Mário de Andradepropõe ao espectador uma intensa experiência acústica por meio da imersão profunda no mar de sonoridades presentes na recriação de 3 contos de Mário de Andrade em áudio. Aqui, a tela é preta – quem constrói a imagem é o ouvinte. O ambiente sonoro é composto por camadas de música, sons concretos e narração, cuidadosamente costurados para levar o ouvinte a um mergulho no seu próprio universo imagético, estimulando a criação e a construção de cenas dentro da sua mente.

As três experiências sonoras que formam essa proposta partem de 3 contos de Mário de Andrade, sonorizados artesanalmente por Enrique Menezes e Maria Fernanda Carmo (Rádio a Granel), com locutores convidados e trilha sonora original. Essas versões compõem um ambiente sonoro original, em diálogo com as sonoridades paulistas de festas tradicionais do interior do Estado, originalmente gravadas pela equipe montada nos anos trinta por Mário de Andrade, quando diretor do Departamento de Cultura de São Paulo.

Cada uma dessas experiências tem como base uma diferente posição do olhar de Mário sobre o Estado de São Paulo: “Túmulo, túmulo, túmulo” é de 1926 e se passa na capital; “Caso em que entra bugre” é de 1929 e se passa em Campos Novos, centro-oeste do Estado; e “O poço” é de 1934, inspirado nas pescarias de Mário de Andrade pela região de Araraquara.

São três sessões no teatro do Sesc (no escuro), misturando sons feitos ao vivo com caixas de som espalhados pela sala, gerando efeito “surround” para o ouvinte imergir no espaço sonoro dos áudiocontos. Em cada sessão será apresentado um conto diferente de Mário, com introdução e contextualização feitas por Enrique Menezes e Maria Fernanda Carmo.

ENRIQUE MENEZES – Compositor e flautista. Doutor e Mestre em musicologia pela Universidade de São Paulo, com pós-doutorado em etnomusicologia na Unicamp e em letras na UFRJ, graduado em composição pela Escola de Comunicações e Artes/USP. Membro-fundador da Escola de Choro de São Paulo e da Rádio a Granel. Procura relacionar a prática musical e a reflexão sobre ela, atuando em diferentes ambientes musicais – popular, tradicional e experimental. Essa atuação já resultou, entre outros, no disco-livro “Jazz Rural”, no disco-livro “Coro de grilo” e nos diversos programas da Rádio a Granel.

MARIA FERNANDA CARMO – Formada no curso de Terapia Ocupacional da USP, é especialista em Acessibilidade Cultural pela UFRJ e atualmente faz a certificação internacional em Integração Sensorial de Ayres. Trabalhou no CAPSi-Sé e no Núcleo de Estimulação Precoce da APAE-SP. Durante 5 anos tocou projetos na Fábrica de Criatividade como membro do Núcleo Gestor e coordenando os Núcleos Pedagógico e de Programação Cultural, com foco na garantia do direito dos diversos públicos aos bens e práticas culturais. Co-fundou, em 2014, a Panaméricas

Diásporas, plataforma criativa que produz projetos que prezam pelo hibridismo de linguagens e pela pluralidade e diversidade de artistas e público. Em 2018, organizou o Desvio Padrão, coletivo composto por cegos, videntes, surdos, ouvintes e pessoas com mobilidade reduzida atuantes no campo da cultura cujo trabalho inclui, entre outras coisas, criar e produzir espetáculos, elaborar e oferecer cursos e oficinas e traçar planos de acessibilidade para eventos culturais.

SERVIÇO:

Palestra “SÍNCOPA – um manuscrito inédito de Mário de Andrade”

Intervenção “A GENTE DE SÃO PAULO – Três experiências sonoras com contos de Mário de Andrade”

Data: 22 e 23/07, sexta e sábado

Horário:

PALESTRA, sexta, 22/7, às 20h 

INTERVENÇÃO, sábado 23/7, às 15h, 15h45 e 16h30

Ingressos: Grátis. Retirada de ingressos limitada a 1 por pessoa, com 1 hora de antecedência, na loja Sesc. Lugares limitados. 16 anos

Local: Unidade São Carlos – Av. Comendador Alfredo Maffei, 700 – Jd. Gibertoni, São Carlos – SP

Mais informações pelo telefone: 3373-2333 (SESC) e 99704 9887 (Projeto contribuinte da Cultura/IMA)

Estas atividades integram o projeto “A Semana de 100 Anos”, realizado pelo Instituto Mário de Andrade (IMA) e Projeto Contribuinte da Cultura, com apoio do Sesc São Carlos e entidades parceiras. Ao longo do ano de 2022 uma série de atividades artísticas, formativas e culturais estão previstas dentro dessa programação, exposições, instalações, exibições audiovisuais, apresentações artísticas, encontros formativos.